[AS BÁRBARAS DO CENA E AS JOVENS HELIODORAS] SIMBAD, O NAVEGANTE
{um olhar}
Simbad, o Navegante, da companhia Circo Mínimo, poderia ser só mais do mesmo. O peso em comum, que os clássicos carregam, é aliviado pela possibilidade da atualização. A partir da história “As Mil e Uma Noites”, o espetáculo nos apresenta as 7 viagens percorridas pelo destemido Simbad (Rodrigo Matheus) e pelas personagens que encontra em suas aventuras (todas elas encarnadas por Ronaldo Aguiar).
Reconhecendo as potencialidades da história, a montagem transgride respeitosamente os moldes clássicos, permitindo novas visões para contos que perpassam o imaginário infantil de uma época. O elemento chave que reconheço dessa atualização é o uso refinado e preciso de bambus como elementos cênicos, onde os atores realizam acrobacias. Novos olhares também são lançados ao Oriente Médio, de maneira sutil e não panfletária.
A grandeza do Teatro Plínio Marcos foi dicotomicamente reduzida e ampliada pela cenografia e iluminação. Ao passo que a encenação desenha os ambientes, são poucos os elementos que restringem a visão do espectador. E quando falamos de espectadores infantis, o alargamento de leituras é uma ponte preciosa para ampliação da formação de plateia. Devo ressaltar que a comunicação não-hierárquica entre adultos-atores e crianças-espectadores são os “dentes de ouro do gigante”, pois mesmo fiel a uma dramaturgia escolhida para ser contada, é criado um terreno onde é legítimo tudo aquilo que se compreende.
Didático sem menosprezar a capacidade de leitura das crianças, o espetáculo estabelece um ritmo que acompanha a velocidade de surpresas desejadas por elas, apesar de perdê-lo nas últimas cenas. As quebras da 4ª parede, bem como as interações e a metalinguagem são fortes aliados na manutenção da atenção também dos adultos. A carinhosa construção da(s) personagem(ns) por Ronaldo Aguiar é generosa, viva e presente, e se afirma nos jogos de repetição estabelecidos com a plateia.
E ali cercada de outras tantas crianças e crianças adultas que levaram seus filhos, o espaço-tempo foi reconfigurado para tornar-se sonho, imaginação e nuvem. De pássaros gigantes a baleias-ilhas, fomos nos tornando amigos daqueles aventureiros. Tanto eu, quanto a menininha de 1 ano sentada ao meu lado, quanto a mãe cuja os olhos brilhavam junto aos meus e os da sua filha. E dessa viagem saio com muita certeza mesmo que “viajar desemburra”.
Larissa Souza, integrante do grupo de pesquisa Jovens Curadores