[AS BÁRBARAS DO CENA E AS JOVENS HELIODORAS] INOMINÁVEL

 

{um olhar}

O que sobra depois de tanto teatro?

Em um momento em que há tantos “teatros” por aí, só restou a ele deixar de ser… teatro.

Se permitir entrar em Inominável já é o primeiro ato de algo que não parece se chamar teatro. Se fazer presente no Parque Olhos D’água tarde da noite, depois do seu fechamento, gera uma sensação boa de rebeldia que torna tudo mais interessante. E assim começa…

“Não há transformação, revolução, luta, caminho. Você já é monarca de sua própria pele – sua liberdade inviolável espera ser completa apenas pelo amor de outros monarcas: uma política se sonho, urgente como o azul do céu.”

Me desprovi de qualquer armadura ou defesa. Entrei. Seguindo uma luz de lanterna, tentei não tropeçar em galhos ou cair em um ou outro buraco.

Se você não estiver disposto a criar junto, não haverá nada. Repeti comigo.

Ele já estava me esperando. Tomava banho em um cenário digno de arrepiar os pelos da nuca. Ele estava inseguro, perdido, às vezes sem sentido. Me pediu pra tomar um banho com ele e eu tomei. Dois pelados em pleno parque num frio de atrapalhar os pensamentos.

“Dançar de forma bizarra durante a noite inteira nos caixas eletrônicos dos bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais.”

Gritou comigo e me mandou ir embora rápido. Corri pra pegar minha roupa e, no corre corre, sai com meias e cueca na mão.

Talvez eu seja um doido de ter tomado banho ali. Não sei como a cena é quando alguém não topa.

Me senti único. E isso envolve toda a proposta de Inominável. É único, 1 espectador e 1 intérprete, frente a frente, lado a lado.

Sai correndo e, até o fim da sessão, passei por outros vários cenários, cenas e figuras. Cada uma única em sua maneira.

“Sequestre alguém e o faça feliz.

Fique nu para simbolizar algo.”

É dos descontentes. Dos dispersos. Dos que não aguentam ficar sentados.

Com tanta dependência de nós, espectadores, valeria mais controle de alguns intérpretes. É possível chegar a altos níveis de acabamento mesmo sem ser preciso deixar tudo combinado. (Aqui, é importante também se perguntar: quem quer tudo combinado?)

Do tédio, o Caos.

Inominável se vale da diferença.

Peca, muitas vezes por falta de controle, mas não o nega e assume com segurança.

Variável, pode ser que amanhã não dê certo.

É magia e mistério.

*trechos de “Terrorismo Poético e Outros Crimes Exemplares”, de Hakim Bey

Gustavo Haeser, integrante do grupo de pesquisa Jovens Curadores