[CRÍTICA] [BUDA] Buda e a saúde mental das crianças
Foto: Nityama Macrini
Buda e a saúde mental das crianças
Brasília, 26 de agosto de 2018.
Banda Mirim,
Em tempos onde a discussão sobre apropriação cultural toma conta, de forma legítima, dos diversos debates sobre arte e cultura, vocês, que se apresentaram no Teatro Plínio Marcos durante Festival Cena Contemporânea 2018, se arriscam a contar a história de Buda, sem economizar em indumentárias e elementos da estética indiana. Como grupo teatral-musical, vocês põem doze pessoas em cena, com mais de trinta instrumentos diferentes, para apresentar às crianças e suas famílias, a filosofia do príncipe indiano.
E a arte é livre, sabemos. Assim como a cultura, que tem um potencial genuíno de não ser propriedade exclusiva de ninguém, apesar de muitas pessoas tentarem, em alguns espaços, afirmarem-se donas de segmentos, comportamentos e manifestações. A cultura é composta por fluxos identitários que se constroem na interação com o outro não só a partir de nossa origem genética ou territorial, mas a partir, inclusive, de nossa empatia étnica com aquilo que afetivamente nos representa. Porém, ainda assim, a autonomia da arte e a liberdade de expressão não podem ser utilizadas como argumento para manutenção de privilégios sem escuta.
É aí que pondero os cuidados e a atenção que talvez sejam necessários com as perucas, para que não sejam utilizadas em tom jocoso devido ao volume dos cabelos crespos no intuito de provocar risos. E também com a prática do yoga e da meditação, para que não sejam levadas como uma piada. O que friso não é no sentido de afirmar que aquilo que vocês estão fazendo está sendo preconceituoso. Quero apenas destacar que há um limiar tênue entre a leveza que um espetáculo infantil propõe e as escolhas que vocês fazem no intuito de gerar comicidade. Diante desse limiar, é preciso redobrar a atenção.
E que relevante a imersão que vocês fazem nesse universo onírico, bem diferente das culturas e etnias que compuseram a formação do povo brasileiro com objetivo de promover aquilo que o príncipe Sidarta Gautama, o Buda, prega. Paz interior, autoconhecimento e pensamentos positivos. Até fiquei observando a querença das crianças em participar da obra e pensei: por que não as trazer para mais perto, convocá-las para uma prática que misture canto e movimentos do yoga e da meditação durante a própria encenação?
No mais, gostaria de indicar o trabalho da banda Dona Zefinha (CE), que tem uma série de obras que se assemelham às suas, misturando teatro e música, com propriedade, segurança e refinamento em espetáculos infantis. Em tempos onde os índices de depressão e transtornos mentais têm ascendido na nossa sociedade contemporânea, instigar a saúde mental de nossas crianças através de práticas milenares que vêm trazendo benefícios a diversas pessoas ao redor do mundo contribui, em muito, para que possamos construir adultos menos aprisionados às artimanhas da nossa própria mente.
Com pensamentos positivos,
Danilo.
*Danilo Castro é ator, graduado em Artes Cênicas (IFCE); jornalista, graduado em Comunicação (UFC), mestre em Artes cênicas (UnB) e autor do blog de críticas (www.odanilocastro.blogspot.com).